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A Marquesa da saia rasgada (ou “ninguém está aí para seus infortúnios”)

Pablo Picasso. Deux Femmes courant sur la plage (La Course) (Duas mulheres correndo na praia), 1922.

 

O fato ocorreu no verão de 2007, em Punta Del Este, no Uruguai. A situação é a entrevista por mim feita com uma marquesa que tinha um alto cargo em uma revista londrina de celebridades e que tinha casa de veraneio na deslumbrante localidade de José Ignácio, onde costumava passar a temporada de calor nos trópicos. Eu era repórter de uma então famosa publicação brasileira (já que naquele século e mundo estava em voga tal tipo de escrita) e fazia cobertura integral de tudo que acontecia no célebre balneário (podem vir a notar que durante esse texto aparecerão adjetivos que podem estar inseridos em um universo (na verdade, microcosmo) de riqueza e ostentação). E admito que podem – e devem – conter ironia. Então, éramos uma dupla de profissionais a ultrapassar os limites de um jornalista de texto e uma fotógrafa, a super Liane Neves. Trabalhamos durante dois verões em regime “full time” e tínhamos uma editora de São Paulo que se sentia uma Anne Wintour (mas só se fosse do Jaraguá). Pedia diversos textos e reportagens “in loco” (sintam que os estrangeirismos, não pertinentes a um jornalista, dão um toque “over”, como requeriam àquela época e ambientação – pero muy chic ) e para ontem. Era como se fossemos falsos clones daquele atual programa televisivo de subcelebridades, só que as personalidades que naquele ano eu tinha que “caçar” eram do tipo a supermodel Eva Herzigova, o estilista Calvin Klein, o cantor Seal, entre outros internacionais, os atores – e de destaque em outros segmentos – brasileiros  convidados e a …marquesa!

A Marquesa (assim, vamos colocar uma maiúscula para causar mais impacto). Uma senhora que desfrutava de sua chácara com seus muitos  e belos filhos e netos. “Mucho, mucho amor“, como diria o ícone da pseudo astrologia Walter Mercado (1932-2019), só que a distância. A amável nobre enquanto regava o jardim de sua afável e milionária morada contou sua trajetória. Nascida e criada no Uruguai, viu que o pai, um próspero homem de negócios, não lhe daria o mesmo tratamento financeiro que eram dados aos irmãos homens e que não ganharia a sua sonhada butique. Então, ao completar 18 anos, a jovem disse que queria estudar em Nova Iorque, a meca para o seu verdadeiro intento. Um casamento milionário. Conseguido e feito em pouco tempo na  big apple  (lembrem-se do primeiro parágrafo). Unidos por um tempo, um filho, a juventude e a beleza se dizendo presentes. Era hora do adeus (ou goodbye) e ir em busca de um título de nobreza. O local: a Espanha franquista. Um marquês general – ou um general marquês- e mais crianças. Mas eram os anos 70 e uma garota rica e nobre, aos 20 e poucos anos, tinha que viver em uma capital do mundo fashion, festiva, enlouquecedora até nos melhores sentidos artificiais. Londres! Adiòs general! E sempre existiram refinados internatos para uma prole de fino trato. A Marquesa fez e aconteceu em solo britânico e em uma dessas – por seu relacionamento com estrelas do show business, nobres e nomes do alto escalão – passou a ser  de tal revista, por onde ficou anos e anos. Sobre os filhos, ela disse que acompanhou o crescimento em encontros anuais. Afinal, como conciliar com as megafestas e viagens constantes. E a Marquesa me deu uma deixa, ou tentou. Quem sabe o seu lema de sobrevivência. “Nunca fale de suas desgraças. Seus infortúnios não interessam a ninguém. Nunca haverá ajuda para quem se mostra em sofrimento“. E completou com a história de uma amiga sua que estava em um transporte londrino e falou para uma moça que precisava sentar pois estava debilitada pela quimioterapia que fazia. A o que a garota respondeu. “Guarde as suas infelicidades para si!“. A Marquesa acreditava que essa atitude servia em todas as esferas. Afinal, para que um looser? Mesmo que para a doença!

Nem lembro o que foi publicado na matéria por mim feita naquele longínquo verão, mas me marcou o pensamento daquela senhora nada pomposa no modo de vestir  em seu paraíso latino, a sua Hamptons (essa cito para me exibir do conhecimento da praia nova iorquina. Tupiniquins deslumbrados adoram isso). E em seus cliques, Liane notou que a sai dela estava rasgada. Então, se no cinema existiram  “A Condessa Descalça (1954)“, de Joseph L. Mankiewicz, vivida por Ava Gardner, e “A Condessa de Hong-Kong (1967)“, de Charlie Chaplin, com Sophia Loren como protagonista, tínhamos nossa “A Marquesa da Saia Rasgada“.

Ah, escrevo aqui porque durante algum tempo pensei que aquela mulher poderia estar certa. Mas ela estava em parte muito errada. Estou vivendo um momento triste, de luto por uma irmã que amei muito. Estou com outra irmã muito doente e tenho um irmão esquizofrênico. Me dedico a eles. Tentei ficar amargurado e me arrasei mesmo. Eu sei a dor que tenho. Mas vi muito carinho e recebi muito amor – e de muitos de quem não esperava. Não sei da marquesa arrivista (without personal judgements)). Mas ficou apenas como um dos folclores daqueles tempos. Bye bye marchioness!

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Ranieri Rizza

Sou um jornalista apaixonado por cinema, assim como cultura em geral, comportamento, viagens e muitas outras coisas bacanas da vida. Quem me conhece sabe do olhar que tenho pelo novo sem deixar de lado a história que constrói o presente . Quem não ainda, convido para adentrar nesse mundo de ideias que valorizam a criação. Bem vindo ! Ranieri Rizza

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