As verdades nada secretas de Mike Tyson

O som que abre o espetáculo é a poetica canção “Nature Boy”, composta e imortalizada na voz de Nat King Cole (1919-1965). No telão que faz o fundo de todo o palco a sombra do próprio Nat gira e anuncia a entrada do ex-campeão mundial de boxe Mike Tyson. Em contraponto ao inicial clima lúdico em poucos segundos Tyson estará dizendo: “Eu garanto que todos aqui saíram daqui com as duas orelhas intactas”. Fazendo referência ao fato de já ter arrancado parte da orelha de um adversário em luta. E no seu caso, em particular, à violência fora dos ringues que lhe atribuíram a fama de agressor compulsivo. Falo do monólogo “Undisputed Truth”, que tem o título em português de “Irrefutável Verdade”. O local é o Sala de Eventos Punta Del Este, no Enjoy Conrad, em Punta Del Este. O público estimado em 800 pessoas é composto por jogadores do cassino, curiosos e fãs, muitos fãs do boxeador que faz parte da história pop à partir dos anos 80.
Virou ícone, celebridade. Perdeu U$ 400 milhões. E esse é o mote do monólogo que traz a história do garoto do Brooklyn que é igual a de tantos outros – ao se falar na infância e juventude marginalizada. Filho de uma prostituta, e com o sobrenome de um dos cafetões dela, diz não saber quem era o pai certo. Entendeu o que a mãe fazia ainda menino com os homens que movimentavam o pequeno apartamento. “Esse bairro que aparece aqui no telão, limpo com suas características escadinhas de entrada e as eternas de incêndio, é da foto tirada para esse show. Hoje moram branquelos felizes ali. Naquela época, no inicio dos 70, era tudo imundo, violento. Era o normal para nós”, conta Tyson. Em um dos reformatórios, para os quais foi desde os nove anos, conheceu o treinador e agente que o levaria para a fama. O vocabulário pesado para falar de masturbação, sexo, doenças venéreas e drogas, drogas de montão, é farto. Também fala, sem poupar palavrões, do casamento, quando ele tinha 21 anos, com Robin Gyvens, uma atriz que junto com ele foi no programa da Oprah e no ar disse ser a vida com Tyson um inferno. Parte da fortuna ali se foi. Tyson, sempre de forma humorada, com direito a dancinhas de pseudo hits do passado, afirma ter sido vítima de um golpe calculado pela primeira mulher e a então sogra. No mais, brigas, pó de montão e o empresário que levou uma grande parte de seu dinheiro em outra falcatrua. Mais pó, mais processos, mais processos armados, mais pó, o vício em sexo, mais pó, casamento, 10 amantes, 100 prostitutas, mais cocaína…Não fala da acusação de estupro. Estaria tudo no rol das armações bem sucedidas dos gananciosos que sempre o cercaram.
Se vê que tem o olhar, a característica de Spike Lee naquele palco. O ritmo, o tom para contar um clima quente como o cineasta fez em seu primeiro sucesso “Faça a Coisa Certa”. O mundo negro que dá a identidade à América, dos guetos. Durante o encontro com a imprensa, perguntei para Tyson sobre as eleições americanas e se poderia dizer o seu candidato. Olhou para mim, abriu as mãos e disse que não falaria, que eu dissesse o meu. Não sou norte-americano, Mr. Tyson, e não vivo, não voto nos EUA, mas estamos no mesmo mundo e penso quem possa ser a correta. Temi por minhas orelhas, confesso ! Outra palavra da ordem é “money”, “plata” – para se situar no pais que está. Fala em família e diz que está feliz na maneira que se pode definir os tempos de felicidade. E fala novamente em dinheiro , que tudo depende quanto faturará. Quer continuar no meio cinematográfico ou de outra arte, mas tudo depende de quanto…ganhará. Fez “Se Beber não Case”e diz que Martin Scorcese quer filmar sua vida e com Jamie Foxx o interpretando. Mas Mike Tyson é um lutador que sobe no palco e consegue entreter, fazer rir e por vezes tremer com sua história. Nada mais pop do que isso !