Desde sua proibição por Xuxa há décadas, “Amor Estranho Amor” terá sua primeira exibição no Canal Brasil

A exibição de “Amor Estranho Amor” dentro de uma mostra em homenagem ao diretor Walter Hugo Khouri (1929-2003), no Canal Brasil, na madrugada desta quinta para sexta, à 0h30, é uma vitória da cultura e um esclarecimento sobre preconceito e confusão de gêneros cinematográficos. O filme de Khouri “considerado o Bergman brasileiro – referência ao mestre sueco Ingmar Bergman (1918-2007) – ficou proibido por mais de 30 anos , devido à uma ação da apresentadora Xuxa Meneghel. Para essa interdição, Xuxa pagava um valor de milhares de reais com advogados para manter a obra, em um efeito contrário, tamanha luta por parte dela fez o filme sofrer uma discriminação comum a títulos sem sexo explícito, mas que apenas por terem cenas sensuais são rotulados como pornô. O cinema de Khouri já era consagradíssimo quando rodou “Amor Estranho Amor”, em 1982. Conhecido por ser sofisticado (tipo iniciar com um quadro de Matisse, utilizar trilhas que tanto tinham jazz como música clássica) e belíssimas mulheres e atores talentosos e de renome. Como “Noite Vazia” (1964), com Norma Benguel, Odete Lara, e o italiano Gabriele Tinti, entre outros, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes (1965); “Palácio dos Anjos” (1970), também com Benguel, a musa jovem do cinema nacional da época: Adriana Prieto, a francesa Geneviéve Grád, Rossana Ghessa; “As Amorosas“(1968), com Paulo José, a romena Jacqueline Myrna, Stênio Garcia e participação de “Os Mutantes“; “O Anjo da Noite“(1974), com Selma Egrei e Lilian Lemmertz. Mas esses são apenas alguns dos muitos títulos que tornaram o cinema de Khouri peculiar e levado para o mundo. E tem os outros grandes filmes da mostra, mas vamos retornar a esse que a grande maioria terá a oportunidade de agora conferir.
Em 1982, Xuxa tinha 18 anos, já havia sido Pantera do concurso Baile das Panteras, promovido pelo Ricardo Amaral, namorava o então craque Pelé – com quem ficou seis anos – não havia operado o nariz e posaria nua para a Playboy. Era modelo e Khouri a viu como perfeita para interpretar uma prostituta adolescente que em certo momento iniciava um garoto (Marcelo Ribeiro), na época com 12 anos. Tudo foi apenas sugerido, sem nenhum abuso ou toque, mas Xuxa viria a se transformar em um ídolo infantil como a Rainha dos Baixinhos. Mesmo tendo trabalhado com um dos mais respeitados diretores do Brasil, ao lado de astros como Tarcísio Meira, Mauro Mendonça, Vera Fischer, Íris Bruzzi, Walter Forster e Otávio Augusto, a loira de Santa Rosa então abriu a luta, que duraria mais de três décadas, para vetar a obra. Os apelos foram muitos, por parte de Khouri, do produtor Anibal Massaini e da atriz Vera Fischer, também produtora e que veio várias vezes à público pedir com que ela cedesse. O prejuízo deles foi grande. Com a transformação pessoal vista na apresentadora nos anos mais recentes, ela cedeu. Massaini e Vera venderam para o Canal Brasil. Agora, Xuxa incentiva que o público veja e comprove que ela não esteve em um filme pornográfico e que luta contra a pedofilia. Pena que Khouri não poderá ver a sua obra liberta.
Xuxa desfila perante o cartaz do filme. Massaini à frente, de braços cruzados, sorri.
Amor Estranho Amor (1982) (121’)
Horário: madrugada de quinta/sexta, dia 12/02, à 0h30
Direção: Walter Hugo Khouri
Elenco: Xuxa Meneghel, Marcelo Ribeiro, Vera Fischer, Tarcísio Meira, Mauro Mendonça, Íris Bruzzi, Otávio Augusto, Walter Forster.
Sinopse: Hugo tem memórias singulares de sua infância. Em 1937, ele foi passar algum tempo com a mãe em São Paulo. Mas o que ele não sabia, era que a casa onde ela morava na verdade era um bordel.
Classificação: 18 anos
Gênero: Drama/Erótico.