Michael Cimino e os extremos da glória e do fracasso

O cineasta norte-americano Michael Cimino faleceu no último dia 2 de julho, aos 77 anos, e pode se afirmar que conheceu como nenhum outro, em tempos próximos, o auge e o declínio na carreira. Vencedor de cinco Oscar em 1978 por seu segundo filme, “O Franco Atirador” (The Dead Hunter), entre eles as categorias de melhor filme e diretor, ele tem a obra como um dos maiores clássicos americanos do último meio século. E não tinha como ser diferente. A história de um grupo de amigos em uma comunidade do interior americano durante a guerra do Vietnã tinha um roteiro primoroso, uma direção segura e no elenco os nomes de Robert De Niro, Meryl Streep e Christopher Walken. Sucesso estrondoso de público e crítica, garantiria a Cimino carta branca para o projeto que ele quisesse fazer. E ele escolheu que seria “O Portal do Paraíso” (Heaven’s Gate), em 1980.
“O Portal do Paraíso” foi uma produção monumental. Algo em torno de U$ 36 milhões, o que na época era orçamento para três filmes de grande porte. A trama: o conflito de barões de gado com imigrantes no condado de Wyoming em 1890. Protagonizado por Kris Kristofferson, Isabelle Huppert, John Hurt, Cristopher Walken, entre outros medalhões daquele momento, tinha tudo para ser um êxito. Só que não ! Problemas alegados na filmagem, como brigas entre Cimino e elenco, a morte de animais, junto à uma longa duração que foi reduzida pelo próprio estúdio foram registradas como causas para que a crítica o classificasse como uma obra ruim. Dos Oscar de “O Franco Atirador”, o diretor viu o filme ganhar as principais categorias do “Framboesa de Ouro”, que escolhe os piores do ano. O resultado foi um fracasso retumbante de bilheteria e a quebra de uma major, a United Artists. Mas “O Portal do Paraíso” é considerado um injustiçado e obra-prima por mestres do cinema como Francis Ford Coppola e Martin Scosese. Cimino fez outros filmes como “O Siciliano” e “O Ano do Dragão” mas não conseguiu se livrar do estigma em torno dele criado. Em 2012, foi homenageado e teve uma nova cópia de “O Portal do Paraíso” exibida na versão original no Festival de Veneza. Na vida pessoal, Michael Cimino manteve uma aura de estranheza, explicitada em sua aparência modificada devido às inúmeras cirurgias plásticas. A causa mortis não foi revelada.