Talento criador supremo da Tyffani, Elsa Peretti soube fazer as mudanças em sua história de vida

Elsa em foto de Helmut Newton tirada no terraço do seu prédio em N.Y
Célebre como a designer de joias da Tyffani & Co por cinco décadas, Elsa Peretti, falecida há alguns dias, aos 80 anos nos deixa a impressão de que foi uma mulher decidida, de convicções fortes e sem medo de fazer mudanças radicais em sua trajetória. Não é fácil sintetizar o tanto de informações que demonstram o poderio como pessoa dessa italiana nascida em Florença, criada em Roma e filha de um magnata do petróleo. Com uma família muito conservadora, Elsa abandonou a casa aos 21 anos e foi para Barcelona, na Espanha, onde, por seu tipo físico e beleza, iniciou a modelar para se sustentar e a ter uma agitada vida de festas. Os pais romperam com ela. A Espanha vivia a ditadura do general Franco e ela era amiga dos integrantes do “la gauche divine” – o grupo de intelectuais que se opunha ao sangrento regime. Em 1968, nada era mais certo do que para uma garota independente do que ir para Nova York. Elsa foi ser modelo – o que não gostava – mas lhe garantia um bom dinheiro para pagar as contas. E logo, ela estava no círculo de nomes influentes, como artistas, agentes, modelos e estilistas como o icônico Halston (1932-1990), que conheceu em um dos desfiles selecionados pela agência que passou a representa-la, a conceituada Wilhelmina. Eram os anos anos 70 e com Halston e sua trupe, Elsa saia para dançar, o que amava, e cheiravam muita cocaína. Afinal, era a década de 70 e nada mais maravilhoso do que se sacudir em lugares como o berço do punk Max Kansas City ou a máxima das discotecas, o Studio 54, com o seu camarote repleto de estrelas de cinema, astros da música, milionários anônimos ou conhecidos e…muito pó. Ela gostava de criar peças e foi parar como designer da Tyffani. Halston fez uma ótima negociação para ela com a empresa de joias, o que ele não soube fazer com sua própria marca.
A famosa foto de Helmut Newton como coelhinha foi tirada em 1975 no terraço do prédio dela. Helmut e Elsa estavam tendo um caso e uma manhã ele resolveu fotografa-la. Ela lembrou que em seu guarda-roupa tinha a fantasia de uma festa que havia ido com Halston – e por ele feita. O registro ganhou o mundo. Uma “playmate” desconstruída, com a meia rasgada e um cigarro na boca. Uma mulher que não precisava de homens para sustenta-la (como ela mesmo afirmaria). Voltando no tempo, na época em que viveu em Barcelona um amigo lhe mostrou fotos de um lugarejo ao norte da Catalunha: Sant Martí Vell. E naquele cenário ali por ela visto, com casas de pedra em ruínas, Elsa decidiu que seria o seu refúgio e que para ele iria cedo. Em Nova York ela começou a economizar e comprou duas habitações em Sant Martí, em estado precário. E ela se tornou a mulher forte no desenho das joias objeto de desejo da Tyffano & Co. Foram muitas as histórias de loucuras, noitadas e drogas, mas ela nunca perdeu o prumo profissional que manteve nos seus quase 50 anos como designer da emblemática marca. Ela era uma mulher sem rodeios (tipo, não gostava de Andy Warhol e de outras pessoas que considerava falsas demais) e uma noite, em um jantar íntimo com poucos amigos, atirou o casaco de pele que havia ganho de Halston na lareira. Ela e Halston brigaram feio e o embate se prorrogou com os donos do Studio 54 semanas depois. Eles queriam que Elsa voltasse a frequentar a disco. Ela dizia que era a amiga que de retorno só via frivolidade, em principal por Halston. No início dos 80, desiludida pela grande perda de amigos para a AIDS e as mudanças na big apple, foi em definitivo para Sant Martí, onde construiu sua “villa” de diversas moradas e um castelo nas redondezas. Com a morte do pai, Ferdinando, herdou um grande número de ações da companhia de petróleo da família. A mulher deslumbrante das noite nova-iorquinas passou a ter um estilo simples, mas sem perder a elegância e a nobreza. Criou obras incríveis e coleções, comprou casas em Barcelona, Roma e Nova York, mas ficava quase sempre desenhando as joias e curtindo seu povoado. E administrando a Fundação Nando (em homenagem ao pai) e Elsa Peretti , empenhada em apoiar o meio ambiente, o bem-estar social, os direitos humanos, bem como a preservação das artes e da cultura. Foi em seu paraíso que Elsa morreu – de causas naturais.


