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Mas não se mata cavalos? A Noite dos Desesperados. O reality e as pedras em nossas mãos

Procurei “Mas não se mata cavalos?’ em minha estante que está prestes a ser demolida. Não encontrei a obra escrita pelo americano Horace McCoy (1897-1955) na década de 30 e versada para o cinema em 1969, dirigida por Sidney Pollack e estrelada por Jane Fonda e Michael Sarrazin e com o título brasileiro de “A Noite dos Desesperados”. Li a obra quando adolescente e sua crueldade me surpreendeu ao mostrar o desespero de uma América assolada pela miséria após o crash econômico de 1929. Tudo era possível para conseguir um prato de comida, até mesmo participar de exaustivas maratonas de dança, assistidas por uma platéia sádica em ver os participantes tombarem vencidos pelo cansaço, fome, doença e desesperança. Ali, era mais uma época exemplificada da monstruosidade humana, assim como foi no Coliseu romano com cristãos devorados por leões ou na idade média, com a plebe rude atirando pedras em condenados a serem executados pelos carrascos. Mas daí  falarmos dos crimes do mundo, da servidão compactuada e permitida, muita vezes pelo medo, citaremos a realidade atual vivida no planeta e em nosso país. Aqui, ficaremos na nossa qualidade de estarmos com as pedras nas mãos assistindo ao reality da maior emissora brasileira.

Tanto no livro como no filme, os personagens que estão nos concursos de dança não tem status social, não tem como sobreviver. Ao chegar naquela pista de dança que os faz dançar dias sem parar e lhes dá três refeições de maneira brusca como se fossem animais (naquela época, hoje animais têm direitos de serem bem tratados) talvez seja a última chance de continuar vivendo, já passaram por diversas degradações e a humilhação que está sendo imposta é bem vinda, mesmo que possa resultar na morte. Nossa crueldade já há algum tempo pode ser exercitada pela televisão, em específicas noites de um reality show. Os participantes nesse caso dizem almejar um dinheiro que pode fazer mudanças em suas vidas. Muitos querem a fama, mesmo sabendo que na maioria dos casos ela será instantânea. Em um dos mais recentes episódios, que podem ser conferidos aos vivo, os concorrentes ficaram mais de 40 horas em pé e parados em uma base que ficava rodando. Ao telespectador é possível acompanhara vontade de urinar, de comer, de dormir e ir vendo, um por um, sucumbir e sair derrotado, frustrado. Aos que sobreviverem à humilhação virá a recompensa, o carro, que utiliza o sacrificado no caso ao seu merchand  com a emissora. Embates, dramas pessoais afloram. Mais de 40 horas na mais recente prova. E o apresentador sorridente aparece na tela dizendo que foi batido o recorde em tempo em todos os programas da marca no mundo.Os que resistiram sorriem sem poder movimentar as pernas e sabem que ainda não são vencedores e não o serão mesmo sendo. No olhar dos que antes saíram, 10, 20, 30 horas, a desilusão já comprovada. A nós, restam as pedras nas mãos.

 

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Ranieri Rizza

Sou um jornalista apaixonado por cinema, assim como cultura em geral, comportamento, viagens e muitas outras coisas bacanas da vida. Quem me conhece sabe do olhar que tenho pelo novo sem deixar de lado a história que constrói o presente . Quem não ainda, convido para adentrar nesse mundo de ideias que valorizam a criação. Bem vindo ! Ranieri Rizza

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