Nada mais “felliniano” do que a exposição em comemoração ao centenário do cineasta que virou adjetivo

O cineasta italiano Federico Fellini nasceu em 20 de janeiro de 1920 em Rimini, cidade litorânea situada na região de Emilia-Romagna. Considerado um dos maiores expoentes da sétima arte mundial,”il maestro”, como era conhecido pela magia de sua cinematografia, está recebendo uma exposição que celebra o seu centenário no Castel Sismondo, em Rimini. A mostra, iniciada em 14 de dezembro, se estenderá até o dia 15 de março e reúne todo um acervo riquissimo (e não teria como ser diferente) da vida e carreira de Fellini, como documentos inéditos, desenhos, roupas (procurem pensar o que significa isso…), manuscritos, roteiros – e ordens do dia – e peças musicais feitas por Nino Rota (1911-1979) – muitas no processo de construção ou que não chegaram a ser utilizadas -por aquele que foi o grande compositor de suas inesquecíveis trilhas sonoras e que estão ligadas diretamente à sua obra (o ouvir e relacionar). Creio que é impossível de procurar descrever sem conferir a exposição e mesmo após assisti-la. Afinal, o que dizer de um homem que teve o nome próprio transformado em adjetivo, “felliniano“, devido ao onirismo de sua filmografia.
Da pequena Rimini, onde foi enterrado após morrer em 31 de outubro de 1993, Fellini citaria na sua biografia “Fellini por Fellini” que ela foi a substância para a criatividade dos 23 títulos por ele criados e dirigidos.”Uma poção confusa, medrosa, terna, com o grande respiradouro do vazio aberto ao mar“, como ele colocaria no seu autobiográfico “Amarcord” (1973), onde trouxe reminiscências da infância e adolescência, como a passagem do transatlântico Rex, prostitutas de seios fartíssimos, tipos estranhos e a ascenção do fascismo na Itália. Se “Amarcord” é uma obra-prima -premiada com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1975 (ele também foi vencedor na categoria por “Oito e Meio” (1964) e “Noites de Cabíria” – 1958)- essa definição de grande perfeição serviria desde o seu primeiro filme como cineasta, “Mulheres e Luzes“, seguido, para citar alguns (que não merecem ser chamados de alguns) como “Os Boas Vidas“, “Satyricon“, “Cidade das Mulheres“, “E La Nave Vá“…Mas, esperem, tem “Fellini Oito e Meio“, “Casanova de Fellini“, “A Doce Vida” (se é para dizermos de lembranças para os leitores, pensem em Marcello Mastroianni, na Fontana Di Trevi e no banho nela de Anitta Ekberg, na criação do termo “paparazzo“), “Ginger e Fred” – esse com Mastroianni e a mulher e musa de Fellini, Giulietta Masina. Com ela ficou casado por 50 anos, até morrer e ela segui-lo quatro meses após. Ela também foi estrela dele em “Abismo de um Sonho“, “A Trapaça” e dois personagens inesquecíveis na história do cinema: a Gelsomina de “A Estrada da Vida” e a Cabíria de “Noites de Cabíria“.
Em abril, após Rimini, a mostra será instalada no Palazzo Venezia, em Roma, e depois seguirá por Los Angeles, Moscou e Berlim.Imperdibile!