O retorno do passado em tempos de pandemia

Você pode querer viver o presente e tentar imaginar um futuro, mas mesmo que não deseje, o passado é o seu fiel -mesmo que talvez doloroso – companheiro nesses tempos de pandemia. E não estou falando da programação de televisão que pode lhe proporcionar o pior em reprises, como um jogo de futebol acontecido há 30 anos. E, afinal, se para ter o agora existem as informações de cuidados e preocupantes estatísticas do vírus pelo mundo. E existe um folhetim verdadeiro – mesmo que pareça inverossímil – de revira(re)voltas na política. Mas falo de memórias e pessoas que retornam e independem do lugar no tempo em que estavam situadas. Algumas em que talvez você sempre pensasse, mas a correria da vida não permitia que fosse discado um número de telefone ou fosse feita uma busca. E em muito, isso nunca iria acontecer. Um dia, em algumas décadas, viria a imagem delas em sua mente, acompanhada de uma saudade (ou não). É que na atual situação, não existem certezas sobre o futuro – e nem se ele existirá. O cotidiano é ilusório e você tem que fazê-lo com uma esperança tirada não sabe de onde. Terá os cuidados com a sua casa, que podem ser muitos, e o trabalhar, ver um filme ou a série do streaming, a internet, a ginástica e os planejamentos elaborados para quando acontecer a desconhecida trégua da doença (conte-se para esses com o elemento ânimo e me perdoem por estar no grupo dos que não são obrigados a sair para a rua para trabalhar). Mas à noite, no despertar mais cedo e ficar na cama, você lembra e se pergunta por onde andam as figuras que estiveram junto em alegrias ou tristezas. Pode até se fazer o jogo ilusório ou uma enganação idealizada de que os que morreram estão em uma outra casa em confinamento. Seu pai, sua mãe, amigos e os seus queridos animais de estimação…Mas as recordações podem vir mesmo entre gondolas de supermercado, em uma distância enumerada no piso e pessoas caminhando de máscaras e com luvas, ao olhar para uma geleia e sentir que ela era a preferida daquela sua querida tia. Aí, é recebida a mensagem daquela colega do segundo grau perguntando se você é você. Um outro que lhe manda uma foto de formatura pela agora bendita rede social. Então você resolve falar com aqueles que sempre lhe foram caros (ou nem tanto). Talvez seja recompensador e digo que não creio em autoajuda e nem em acerto de contas para garantir uma partida dessa para outra. Mas, pessoas e situações podem ser deixadas naquele cantinho do cérebro que você esquece (ou tenta). Sem culpas!