“Performance” faz 50 anos de sua realização e mantém aura de liberdade revolucionária

Sim. Se você fala em poliamor, amor livre, experimentações sensoriais e um cinema – e arte- não preso há construções formais, sinto, isso não tem sua plenitude nessa avalanche careta que o mundo vive. Retornemos 50 anos. O ano é 1968 e falamos na feitura do filme inglês “Performance“, primeiro filme do mestre Nicolas Roeg co-dirigido com Donald Cammell, que foi lançado em 1970 e se tornou um clássico cult. Para isso, a estreia nas telas do maior rockstar do planeta, Mick Jagger, o líder do Rolling Stones, uma linda modelo musa groupie, Anita Pallenberg e outra muito jovem (16 anos) e bela garota, Michèle Breton vivendo um ménage à trois. A trama inicia como um filme policial e torna-se uma viagem alucinante de troca de identidades, drogas e sexualidade sem distinção de gênero.Livre!
Agora, um livro comemorando a quinta década do filme está prestes a ser lançado, com fotos inéditas e entrevistas com Jagger e o diretor Roeg, o autor Jay Glennie e o produtor Sandy Lieberson. Eles falaram sobre os muitos fatos que alimentam a aura em torno da produção, como disseram para o The Guardian. “Performance” foi glorificado e odiado pela crítica. Incomodou muita gente, a começar pela empresa Warner Bros, que esperava uma comédia como “A Hard Days Night”, sucesso que Richard Lester havia feito com os Beatles. Mas a direção e a equipe se propuseram à experimentações, uma obra que misturasse gangsteres, assim como as diversas expressões sexuais. O elenco se envolveu mesmo. Anita era namorada de Keith Richards, já tinha sido de Brian May e teve um caso com Jagger, todos dos Stones. Reza a lenda que a transa entre o trio Jagger, Anita e Michèle foi real e teve o tempero de muito haxixe e LSD. Segundo Glennie, o filme influenciou grandes cineastas que vieram depois e é o preferido de Martin Scorsese, o que o próprio disse para Mick. “Levou tempo para as pessoas se atualizarem e entenderem o Performance. Eu já vi o filme milhões de vezes e ainda não entendi completamente!“,declarou Roeg.
O destino dos atores após a rodagem é curioso e um tanto trágico, fora o ídolo Mick, que se mantém uma estrela. James Fox (79) largou os sets por 10 anos para se dedicar a uma seita evangélica, depois retornando. Anita ficou viciada em heroína, mas morreu apenas aos 73 anos, em 2017. Michèle é uma incógnita. Um dos diretores, Cammell, a tinha conhecido um ano antes, quando ela tinha 15 anos, na França. Naquele ano, ela havia feito sua primeira participação no cinema em “Weekend”, de Jean-Luc Godard. Com Cammell e a namorada ‘oficial’ dele, a modelo americana Deborah Dixon, ela virou o terceiro vértice de um triângulo. Após a filmagem de Performance, Cammell a levou para Paris e disse que não queria mais vê-la. Na Itália ela fez a série “Odissea” e sumiu no mundo e também dependente de heroína e outras drogas. Cammell se suicidou em 1996. Dizem que Michèle morreu, mas nada consta sobre isso. Esperemos um relançamento comemorativo aos 50 anos de lançamento, o que será celebrado em 2020.>