Você já viu o novo Polanski?

Era uma pergunta comum. Ainda é feita, mas não com a mesma intensidade e sobre os filmes de cineastas que chegavam a ser adjetivos: Fellini, Hitchcock, Antonioni, Bergman, Pasolini…Existiam os cinemas de rua, os ciclos, as sessões da meia-noite. Mas o “você viu o último…” ainda pode ser executado – e com maestria – sobre Bertolucci (logo um post aqui exclusivo sobre ele), Woody Allen, Tarantino (para falar dos ‘novos”) e Polanski. Ai, respondo, vi sim o último a ser lançado no Brasil do Roman Polanski, “Baseado em Fatos Reais“. E, que felicidade, o velho, me permitam o jogo de palavras, continuo com a sua verve. Como gosto de ressaltar, não sou crítico. Sou bacharel em comunicação-jornalismo pela Famecos, me criei dentro dos cinemas do centro de Porto Alegre, burlando a censura e criança vendo os Altmans da vida e os Polanski. Muitas vezes sem entender nada. Afinal, como aos nove anos decifrar “Teorema” do Pier Paolo Pasolini?
Bem, Polanski está na minha vida desde “Cul-de-Sac” e adoro ver que, mesmo abrandada, a sua perversidade (que é a mundana) está na obra atual. Mostra que a sua linda musa Emmanuelle Seigner já não é mais a garota enlouquecida e erotizada de suas produções anteriores mas não perdeu a beleza, aperfeiçoou o talento de interpretar e com os seus olhos que demonstram uma certa adorável demência. E faz um duo, essa no papel “vampiresco”, com Eva Green. Seigner ganha em cena como a vitimizada escritora em crise. Perturbações não faltam. E o que seria de um Polanski sem mentes doentias (e todos entramos nessa). As nuances adquirem força e se pode reconhecer os fantasmas de vários exemplares do cineasta. Afinal, como não lembrar de “O Inquilino” quando ela entra no café para encontrar a fã “ghost-writer” e o garçom pergunta se ela irá querer a bebida de sempre ? Referência inegável àquele que talvez tenha sido o seu mais impactante terror psicológico.
“Baseado em Fatos Reais” é uma adaptação do livro de mesmo nome da romancista francesa Delphine De Vigan, mas Polanski deixa a sua marca e ainda conta com a música de Alexandre Desplat, o vencedor do Oscar 2018 pela trilha de “A Forma da Água”, de Guilhermo Del Toro. Espero ainda escutar muito a pergunta título.