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“Pssica”, minissérie de Fernando Meirelles e seu filho Quico, estreia na Netflix e é imperdível pela peculiar narrativa de um tema chocante e real
Marleyda Soto, Domithila Cattete e Lucas Galvino / Crédito: Rodrigo Maltchique/Netflix
A nova minissérie brasileira do Netflix , Pssica, chama atenção tanto pelo enredo quanto pelo nome. O termo, comum no Pará e toda a região Norte, é uma gíria popular que significa “maldição”, “azar” ou “coisa ruim que persegue alguém”. Como uma sequência de acontecimentos negativos que parecem inevitáveis ou amaldiçoados, como se uma força ruim estivesse acompanhando uma pessoa. A trama traz a exploração sexual de adolescentes na Região Norte do Brasil. A trama acompanha Janalice (Domithila Cattete), uma garota de uma comunidade ribeirinha exposta nas redes em um vídeo íntimo feito pelo então namorado. Sem o apoio dos pais (em especial a mãe, influenciada pelo pastor local) acaba indo morar na periferia de Belém. Ela vai viver com uma tia que tem um namorado abusador e termina sendo sequestrada. Criada, produzida e dirigida por Fernando Meirelles (e como não citar o seu clássico e premiado ‘Cidade de Deus‘) e seu filho, Quico Meirelles (que dirige três dos quatro episódios), entenda-se que a serie tem na criação artística Bráulio Mantovani, que é o autor do roteiro de nada menos que…”Cidade de Deus“. É o suficiente para ver que é uma equipe de deuses que sabe transitar nos infernos nada ficcionais. Além de revelar para o país o talento e a beleza da paraense Domithila, o elenco conta com a excepcional atriz colombiana Marleyda Soto(Cem Anos de Solidão), como uma mãe que perdeu o marido e o filho para os “piratas” que atacam nos rios da região e resolve salvar a garota, e o cearense Lucas Galvino, que interpreta Preá, o líder de uma gangue.
Dirigido com foco na cultura amazônica, a serie conta como essa “maldição” une os destinos dos protagonistas que não poupam atuações viscerais, destacando as tensões sociais e ambientais da região. A história traz o tom real e cru da exploração e violência. E consegue ter uma poesia em meio às tragédias, muito em conta pela liberdade narrativa – e criativa – como as frases que aparecem na tela. “Pssica” é inspirada na obra homônima escrita por Edyr Augusto, lançada em 2015. Filmado em locações verdadeiras no Pará, ilha de Marajó e a Guiana Francesa oferece um retrato autêntico e rico em nuances. Imperdível!FF
Fernando e Quico Meirelles